26 de maio de 2010

Sê tudo o que quiseres

Sofre para dares o teu melhor.
Grita, berra, exibe-te.
Faz tudo o que quiseres e puderes
Para lhes chamar a atenção.

Porque ninguém te vai ver.
Passarão por ti e continuarão a andar,
Sem nunca olhar para trás.
Não és nada.

Quebraste as tuas promessas.
Fizeste pouco das tuas palavras,
Fizeste pouco de ti própria.
Ignoraste o facto de o futuro ser em breve o presente.

Por isso, sê tudo o que tu quiseres
Tiveste tudo e eu, sem nada
Pude ensinar-te a perder.
Já não és nada senão invisível.

Destinada ao oculto,
Ou talvez apenas ao imaginário,
Não paro decidida a seguir.

Presa a palavras soltas,
Dedicada ao vazio,
Fiz-me a mim pelo plural.

É quase pecado. É quase dor. É quase crime.
Um pouco de tudo e um pouco de nada
Traduz-me assim.

28 de abril de 2010

Ao Sr. Engº Narciso Mota

Pombal, 28 de Abril de 2010.
Ex.mo Sr. Engº Narciso Mota, Presidente da Câmara do Concelho de Pombal:
Venho, por este meio, comentar a sua presença na Escola Marquês de Pombal no dia 28 de Abril de 2010. Apesar de não esperar que esta mensagem possa causar-lhe algum desconforto ou que o faça reflectir um pouco, optei de qualquer forma por enviá-la; provavelmente, em nome de muitos outros habitantes da cidade de Pombal pois considerei-o o mais correcto a fazer.
Gostava de salientar o facto de não compreender como é que um veterano do mundo da política, relações públicas e afins tem a indelicadeza de chegar atrasado a uma palestra (como é habitual) e interromper a ordem de trabalhos estipulada. E digo, com toda a sinceridade, que considerei um imenso insulto na sua chegada não saber de que se tratava a palestra nem sequer ter conhecimento do nome nem dos cargos desempenhados pelo nosso convidado especial.
Das poucas oportunidades que teve para falar, o Senhor Presidente teve a capacidade de falar mais que o próprio dinamizador da palestra, o Dr. Vítor Ângelo, ex-representante do secretário geral da ONU. Esta acção é de louvar, sem dúvida, mas não era o pretendido. Não sei se é por já estar tão habituado a discursos desses ou se é por ter algum interesse subjacente, mas Dr. Narciso, hoje não foi dia de campanha eleitoral!
Se o senhor Presidente tivesse chegado a horas, teria ouvido as palavras sábias do Dr. Ângelo e da sua experiência: “Um bom líder não é aquele que se limita a mandar e evitar o trabalho conjunto, isso é apenas um dirigente. Um bom líder é aquele que sabe respeitar, ouvir e manter a proximidade com todos”.
Passando agora a comentários mais específicos, gostaria de dizer ao Dr. Narciso que é dispensável partilhar connosco que não quer que a sua família viva na pobreza! Talvez se se interessasse um pouco mais pela população que representa, já teria o privilégio de aprender que passa-se tanto, demasiado neste Mundo para a sua família ser o centro das atenções nesta sociedade imperfeita em que nós jovens, vivemos na esperança de limar as suas arestas. Por outro lado, deixe-me que refira que tive a oportunidade de consultar um dicionário e, eis o que encontrei:
Suicidar - Acto ou efeito de suicidar-se; morte dada a si mesmo
(Do latim sui, «de si» +-cidìu-, de caedère, «matar»)
Auto-suicídio – Esta palavra não consta no dicionário de Língua Portuguesa
E como pode concluir, ao contrário do que disse, o suicídio não pode ser cometido por terceiros, pois esse caso é denominado por homicídio:
Homicídio -morte de uma pessoa praticada por outra ou outros, assassínio
Considere isto apenas um pequeno aparte. Como ia a dizer, outro aspecto que não poderia deixar de referir é a dedicação do Dr., ao elogiar tanto a cidade de Pombal. Senhor Presidente, nós somos habitantes desta bela cidade, nós sabemos no que vivemos! Agradeço o seu empenho em promover a nossa cidade, mas creio que exista tempo e locais oportunos para tal e não numa palestra sobre a ONU e desigualdades sociais.
Por fim, gostaria apenas de dizer ao Sr. Presidente (e este comentário também serve para o Senhor Vereador da Educação e do Desporto de Pombal) que é uma regra de boa educação desligar os telemóveis em palestras!
Falando agora no meu papel como jovem com ambições para o "amanhã", espero um dia poder alcançar um futuro promissor e poder lutar por um país mais harmonioso estando ligada à política. Posso afirmar-lhe que se algum dia conseguir viver o meu sonho político, a influência que poderá ter sobre mim será apenas para que eu tenha a noção do que nunca vou querer ser e como nunca deverei agir.
Uma palavra, uma única palavra para si, Senhor Presidente: respeito!

Com os melhores cumprimentos
Ana Beatriz G. Rosa

22 de abril de 2010

Lembro-me


Lembro-me deste sítio.
Já estive aqui…
Já dancei por estes as folhas coloridas daquelas árvores,
Já desfrutei do simples azul do céu.

Lembro-me deste sítio.
Eu esquecia-me dele,
Enquanto olhava para ti,
Enquanto sorria para ti.

Lembro-me deste sítio.
Já nos rimos muito...
O tempo era um segundo,
Um segundo era inesquecível.

Lembro-me deste sítio,
E lembro-me de ti.
Eu lembro-me deste sítio,
Já fui feliz aqui.

6 de abril de 2010

Cortês

Basta-me fechar os olhos. Parar e fechar os olhos.
Basta-me que o vento num tom suave movimente os meus cabelos soltos.
E ao sentir aquele sol da manhã a aproximar-se à minha pele clara e frágil,
Sinto-me livre.
Esqueço passos, esqueço sombras, esqueço tudo o que é e o que não é.
Existo eu e só eu, e adoro!
Enquanto passeio por todas aquelas ruelas estreitas de calçada aos altos e baixos, Enquanto saboreio e me deixo levar pelas ondas de calor e brisas,
Sorrio sem me aperceber.
Como adorava poder arrancar estes pedaços de tecidos sobrepostos
Que abafam e resguardam o meu corpo e dançar…
Deixar-me levar fosse como fosse, libertar-me de mim mesma e por momentos, Esquecer esta sociedade tão asfixiante.
É que ao sentir-me tão livre nestes tempos
Em que fujo de quatro paredes que vertem tanta pressão e competitividade,
Perco o controlo de uma necessidade excessiva de me libertar ainda mais e mais e mais!
Apenas gosto de desfruir de coisas simples que nos dão tanto.
Apenas gosto de ser o que sou.
Apenas gosto de sorrir.
E são estes sumptuosos momentos
Em que caminho sem destino nem companhia,
Que me fazem sentir livre,
Livre e completa.
Ana Rosa*


28 de março de 2010

Rapariga dos saltos vermelhos


Vinte e duas horas e estava de partida, tal como todas as noites. Retirava do bengaleiro o seu casaco preto comprido para se proteger do frio que envolvia o seu corpo coberto por peças de roupa mínimas e justas. Trancava a porta e partia sem destino. Eu sabia quando isso acontecia. O vizinho do quinto direito sabia quando isso acontecia. Todos sabiam quando isso acontecia. O seu andar era sempre enaltecido e acompanhado pois ela era a rapariga dos saltos altos. Sedutora e maravilhosa. Não a conheci, apenas tive tempo de ver aquele sorriso misterioso e de ouvir a sua voz doce e meiga quando lhe fui pedir açúcar para o meu café da manhã.
Agora caminhava para o seu carro enquanto os seus firmes caracóis, tentadores e cativantes acompanhavam os seus passos ao ritmo das brisas nocturnas. Saia do sofá e largava o portátil só para a contemplar através janela sala. O seu corpo, tão perfeito. Aqueles olhos verdes, pele de tom bronzeado, tão suave e macia, aqueles lábios vermelhos que combinavam com os seus saltos altos. Queria-a, desejava-a tanto.
Não percebo porque se resignou àquela vida. Acabou por se cansar. Cansou-se das vidas de uma noite. Cansou-se de tantos homens atraentes e ocos. Quiçá o esforço para ter tanto prazer, viver tão intensamente e de fingir tantos orgasmos para encher o vazio que percorria as veias do seu corpo e que a atormentava transformou-se nalgo pior; um ciclo vicioso num
poço sem fim. Cansou-se de fazer dela própria um objecto.
Reparei ontem que passavam das dez e ainda não tinha ouvido os seus saltos. Partiu. Partiu “à procura de melhor”. Eu podia, eu queria dar-lhe o que procurava. Estava à sua frente, e ela não me viu. E de pensar o quanto a poderia amar. Acordar a sorrir com o som dos seus saltos que calçaria todas as manhãs. Aqueles saltos a que eu tanto me habituara. Mas agora partiu. Partiu e nunca lhe perguntei o nome.

Era belíssima aquela rapariga dos saltos vermelhos.


Ana Rosa*

24 de março de 2010

Desmorono

A tua presença apagou-se, o teu sorriso desfez-se, caíste em esquecimento
E foste a culpada disso.
O grau que resistência que julgavas ter era insuficiente.
Serenamente
foste perdendo controlo do teu corpo
Violentamente
omitiste o facto de que é ele que te faz respirar, pensar, sentir.
Agradavelmente
viveste o instante infinito.

A necessidade de esqueceres foi mais forte que a de aceitares.
E de me lembrar o quanto querias viver,
O quanto querias deliciar-te dos pequenos sonhos que te tornavam tão única e excepcional…
Viveste tantos anos em cativeiro
E a vontade de saíres da gaiola e voares foi tão forte
Que te esqueceste de que primeiro tinhas de aprender a dominar as tuas asas.
Mas caíste, magoaste-te e magoaste outros também.
Agora gostavas de voltar a acreditar, aceitar, lutar, voar e não consegues.
O desejo controlou-te.
O prazer saciou-te.
O vício consumiu-te.

Mas agora, não consigo parar de perguntar
O que perguntas a ti mesma:
E se pudesses voltar atrás?
Ana Rosa*

22 de março de 2010

Já era altura de encontrar uma boa desculpa para por aqui esta foto divinal.
Ainda não a inventei,
Mas amo-te*

16 de março de 2010

Ensina-me

Ainda bem que me vais ensinar a rir,
Porque assim é tudo mais fácil,
Assim posso parecer alguém
E cair na ilusão do que gostava.

Ainda bem que me vais ensinar a rir,
Porque assim descubro mais,
Assim penso menos
E posso adaptar-me à realidade.

Ainda bem que me vais ensinar a rir,
Porque assim amo a demência,
Assim aprofundo a parvoíce
E consigo sentir-me livre nesta prisão.

Ainda bem que me vais ensinar a rir,
E agora posso fingir,
Assim não sou perseguida pelos meus pesadelos,
Porque assim posso acreditar que sou feliz.

Posso aprender a rir contigo, por favor?

Ana Rosa*

10 de março de 2010

Etiquetas.


E quando damos por nós, lá estamos a comprar mais uns jeans que são sempre precisas”, aquele vestido justo sem costas que “sempre quisemos” e aqueles botins que “ficam tão bem com aquele top”. Se estamos aborrecidos ou se estamos bem-dispostos, se estamos tristes ou se estamos cheios de energia…A verdade é que acabamos sempre em lojas. Acabamos sempre por nos preocupar em escolher o que nos fica melhor, o que está mais na moda, o que é mais original. Somos fúteis, eu sou fútil. Olhamos e achamos que conhecemos uma pessoa. Ou porque não usa roupas da moda, ou porque tem estilo e de certeza que é uma pessoa fantástica. Então e eu? Então e tu? Já pensaste o que dizem de ti quando levas umas All Star que te foram caríssimas mas que não podes usar porque já caíram em desuso? Podemos ser maravilhosos, mas a aparência… Se não tiveres um sorrisinho bonito, se não tiveres um rabinho jeitoso, se não te vestires bem, tu sabes que não podes pertencer aos grupos importantes do colégio. A culpa não é tua. A culpa é desta idiota sociedade que cria e estipula regras nela própria e nos que não as querem. Quando tens três anos, os filhos dos papás ricos dão-se só com os da mesma laia. Quando tens quinze, sabes que há aquele grupo dos “jeitosos” que dominam. Quando tens quarenta, há as mamãs chiques que não conseguem virar o pescoço com tantas plásticas que já fizeram. E como, como será possível mudarmos isto? Como se esta merda que acontece na sociedade é constante? Mais, é hierárquico! Fingimos ser o que não somos para os vizinhos não comentarem, recusamo-nos a viver pelos tabus, temos que ter vidas tão ocultas e fechadas…E porquê? Pergunto-me interminavelmente: porquê?! Limitem-se a viver! Não durmam durante noites e noites, bebam, dancem, gritem, seduzam, simplesmente…aproveitem! Depois desta noite, nenhuma será igual. É intolerável a ideia de te recusares a viver por causa dos outros. Sabes porquê? Porque no final, não é o facto de teres emboracado vodka ou o facto de teres dado uso ao teu charme e sedução que os vais afectar minimamente. Digam o que disserem, continuamos a viver numa sociedade repleta de etiquetas e tabus. Pronto, e já que ninguém faz nada, lá temos nós que lutar contra isto, não é? Vendo bem, apenas precisamos de ser o que somos, dar uso ao nosso sentido conscientíssio para que tu, oh pudica sociedade, possas parar de nos invadir e convencer mais militantes a beijar o teu altar.
Ana Rosa*

5 de março de 2010

Dama da escuridão

Estou tão perto
Perto, perto de quê?
Perto desta multidão que não pensa com o coração?
Pois não, só sabe ver o prazer daquela falsa sedução.
Comem os homens,
São canibais nesta cidade,
Neste deserto onde a noite é morta,
Em que o vazio bate à porta
Daqueles que não a têm.
Lá longe está o pinheiro,
Que noite após noite
Se habitua à sedução do dinheiro,
Ao jogo do amor de plástico,
Que vai e volta, como um elástico.
E no fim, parte a unha, estala o verniz,
Chora a saudade de ser feliz;
Chora a saudade de não se vender;
Chora o medo de perder,
Perder aqueles que a amam de verdade.
Inês de Gonçalves,
Sabes queo adoro .)

3 de março de 2010

Rosa & Chocolate


Era sexta-feira. Um dia triste para aqueles que partilhavam o seu amor. A distância entristecia-os. Fazia-os sentir fracos, sozinhos, desamparados, sem razão. Nem que fosse por dois dias.
No meio daquela multidão de risos ou choros, de bibes e sapatinhos número vinte e dois, eles desconcentravam-se para se concentrarem neles. E nada mais. Nada mais até serem separados. Até aos pais puxarem um para cada lado. Para os arrancarem daquela promessa de partilhas do leite achocolatado pela manhã e da cumplicidade que sentiam ao andar de baloiço pelo fim do dia.
Num fim-de-semana tão longo e penoso, Alice, decide saborear aquela tarde tempestuosa para a brincadeira ao imaginar-se Barbie, e a viver o seu romance com o Ken. Ela não se interessava pelo que diziam. Alice esquecia as capas de livros e os resumos tendenciosos que os outros faziam deles. Alice lia o livro e dava importância ao conteúdo, da forma que ela assim entendesse. Só havia um problema relacionado com a sua personalidade: a sua família não a aceitava como gostaria de ser. E portanto, nunca poderia tolerar que uma inocente e indefesa rapariguinha se relacionasse com alguém de outra cor, muito menos numa relação séria! Discussões…Era somente o que se podia ver no lar da pequena Alice. E tudo porque ele era negro. Sim, só por isso. Já era insuportável viver naquelas condições. E, como forma de protesto em seu pensamento, só havia uma forma de se manifestar…
Era segunda de manhã e não havia sinais de Alice. Os pais desta vez, ao invés de discutirem, uniram-se, pois perceberam que juntos tudo se tornava mais fácil. Apesar de tudo, desta vez nem a união os salvava. A sua filha já não estava naquela casa. Nem ela, nem as suas roupas, nem os seus peluches, nem a sua escova cor-de-rosa com que todas as noites penteava os seus cabelos compridos e dourados. Apenas deixou algo como sinal de despedida e contestação em cima da sua cómoda: a Barbie e o Ken. Mas desta vez, algo os diferenciava daquele habitual casal com que brincava - estavam pintados de preto. Preto como o céu sem lua, negros como um túnel escuro. A tinta negra das suas aguarelas com que fazia os seus bonequinhos infantis era evidente por todo o seu quarto. Paredes, móveis…Mas o negro era predominante naqueles corpos de plástico que imitariam pele. Pele branca, pele comum…Para Alice, pele de pecado, pele de crueldade, pele de impiedade e blasfémia.
Obrigada minha adorável Inês :)
Ana Rosa*

1 de março de 2010

Definições.

Após o tempo, todos eles se dissipam.
Uns decidem desempenhar novos papéis na sociedade,
Outros simplesmente não procuram inovação…
Destroem-se laços,
alternam-se papéis
E vai-se recorrendo àquelas conversas hipócritas,
risos cínicos,
sorrisos falsos,
atitudes deploráveis…
Atitudes desesperadas da necessidade de atenção,
de manter grandes amizades…
Até as esquecer.
Na verdade, o nosso mal é sermos amados por quem não merecemos…
Ou talvez amarmos quem não merece!

Ao olhar minuciosamente para o que ficou,
apercebo-me que só me resto a mim própria e pouco mais.
Mas de nada serve, afinal de contas,
queremos tanto ser cobaias uns dos outros
para falar da nossa vida e experiências.
Usem-se,
mas deixem-me usar-me à minha maneira!

Já pensei em tornar-me outra pessoa,
como muitos fazem.
Ser eu é demasiado.
Assim poderia viver pelo menos, com uma felicidade aparente.
Podia sobreviver nos meus sorrisos obrigacionais até,
de certa forma, conformar-me de que era feliz,
apesar de ser uma ilusão.
Mas, foi involuntária a decisão de me manter fiel a mim mesma.
E claro que isso tem as suas consequências
Mas que posso eu fazer?
Pelo menos, sinto-me bem e admito a realidade.
E depois, como poderia ser fiel aos outros, sem o ser a mim própria?

Agora, agora vejo-me rodeada de uma minoria contada com os dedos da minha mão.
E ainda bem.
É bom saber que cada um desses dedinhos representa algo a sério
Algo que está sempre presente para quanto precisar.
È bom olhar para trás ou até mesmo ver o futuro,
e saber como sou.
No meio de tantas mentiras,
é bom saber que a minha essência se mantém sem que aí precise de ser uma impostora, tal como todos os outros.
Custa, mas ainda sou eu,
Eu ainda sou eu.
Ana Rosa*

23 de fevereiro de 2010

Audácia dissipada.


Tal como todos os dias, este era igual. Chegara a casa, esgotada, sem uma réstia de energia que pudesse ter. Tudo o que eu queria era progredir, ser um pouco reconhecida…Mas nada conseguia. Era impossível conquistar algo, conquistar alguém. Provar o que sou ou o que quero ser. Desde pequenina que tinha este sonho e agora, em vez de se tornar realidade, é pior que um pesadelo.
Entrava no meu despretensioso apartamento, e ia directamente de encontro com a minha melhor companheira, a garrafa de whisky que tinha dentro do armário, ao lado de muitas outras. Não percebo porque o fazia, mas já era hábito.
Voltava a encher o copo, e retirava o meu vestido excessivamente justo, curto, decotado, de que já nada me valia. Já sem roupa, bebia e bebia, enquanto olhava através das janelas panorâmicas da sala para a cidade, enquanto as lágrimas corriam pela minha face e me via corroída pelo desespero e infelicidade profunda. Já não sabia que fazer, que rumo tomar. È aterradora a ideia de lutar tanto em vão. Sentia-me usada, vendida, suja. E de nada me valeu sentir-me assim.
Arranquei o lençol branco que tinha na minha cama e cobri o meu corpo nu apenas com ele. Enquanto subia escadas, levava a garrafa comigo, até chegar ao terraço. Olhava para a vista. Era incrível. As dezenas de edifícios, e sei lá quantos mais seguiam o rasto das intermináveis e indefinidas estradas. Bastava olhar, bastava olhar e perceber. Perceber que isto é tudo simplesmente, estranho e sem sentido! Gostava de descrever o que via, mas até escrevendo seria demasiado, simplesmente demasiado.
A certeza de que nada me prendia e a indiferença com que dava cada passo a seguir ao outro, fez-me tomar uma atitude e chegar ao limite. Subtilmente, aproximo-me do limiar do cimento do terraço. Olhava para baixo e absorvia aquela sensação única que sentia. Ansiedade, autonomia…Apenas vertigens? Talvez. Mas soube bem. Olhava em frente, para o infinito. Procurava um caminho. Um novo caminho. Mas começara a ficar hesitante…Mudava de direcção, ou parava por ali? Talvez a minha discrição deixasse de existir quando aquelas pequenas e banais pessoas intrometidas começaram a olhar lá de baixo o que queria eu fazer…Mas e sei lá eu o que queria fazer! Quem me dera a mim saber! De súbito, começaram a chegar ambulâncias e, como seria de prever, a curiosidade e o espanto dominavam as ruas. Sempre procurei emoções e movimentação e hoje, logo hoje que queria um pouco de paz e sossego, tinham que me aborrecer?!
Bem, só havia uma coisa a fazer: tomar uma decisão. Era um dilema sim, um verdadeiro dilema. O que é certo é que, qualquer que fosse a minha decisão, depois de esta, algo me identificaria: a coragem. Teria coragem para começar um novo caminho, sem saber obstáculos encontraria e se esse seria melhor que este? Ou teria coragem para reconhecer que o meu caminho houvera sido traçado e ficara por ali?


Tomei a minha decisão.
Ontem foi assim, e o hoje o amanhã, já os esqueci.

Ana Rosa*

20 de fevereiro de 2010

Traição


A adição é exclusiva.
A tradição é acolhedora.
Mas a traição acaba por surgir,
Inevitavelmente, ela surge!
Gravura de António Barroso, 1979
Adaptado por Ana Rosa*

19 de fevereiro de 2010

Conceitos.

-Foge, foge para bem longe!
Ele só queria o seu bem, que ela encontrasse por algum tempo a liberdade que tanto queria.
-Se for, não volto.
Ele olhou para o seu rosto com remorsos, mas sorriu-lhe.
Sabia, ou pelo menos acreditava, que ela o amava o suficiente para não suportar tal distância.
Mas ela fugiu. Ela encontrou a liberdade. E não voltou.

Afinal, de que lhe valia ele? Ela não suportava aquela ideia de prisão.
E enquanto se afastava e o via cada vez mais pequeno e pequeno, recordava os tempos em que só ela existia, os seus tempos de loucura, os tempos sem regras, sem limites.
Por muito que o amasse, não abdicaria disso, não abdicaria dos seus pequenos e desprezíveis prazeres.
No fundo, não lhe valia de nada amá-lo e ser amada.


E ele, enquanto a via partir, sorria.
Até se aperceber de que ela realmente não voltava.
Afinal, a liberdade que ele lhe deu, também tinha sido ele a tirá-la.
Ele sempre sonhou com pequenas coisas, sem grandes ambições.
Mas um futuro para eles, algo humilde e simples, mas feliz.
Mas agora ela partiu, ela partiu e o sorriso, foi-se esmorecendo.


Nada nem ninguém os podia impedir do quer que fosse.
Eles alcançavam tudo e todos.
Eles podiam abraçar o Mundo inteiro.
Ela não foi culpada por ser insensível ou egoísta, nem ele por fazer demasiados planos ou pelo seu romantismo aliás, tudo os unia, à excepção de um pequeno pormenor:
o diferente conceito que tinham sobre amor.
Ana Rosa*

16 de fevereiro de 2010

Disperso!


Hoje sim, estou aqui para criticar!
Hoje sim, estou aqui para dizer
Que não posso permitir toda esta monotonia!
Que já não suporto a minha indiferença,
E que quero lutar!
Quero lutar e mudar tudo o que me rodeia!
Mudar e moldar porque quero ser feliz onde estou!
Quero dizer o que quero, onde quero e como quero!
Ignorar todos os pobres coitados
Que se perdem nas sua aparente superioridade...
Ou pelo contrário, na inveja.
Quero amar os que me amam.
Agarrar o que quero,
Para partilhar o que tenho.
Quero que a minha cabeça se mantenha erguida,
Enquanto o meu rasto é enaltecido.
Quero encontrar o meu Mundo,
Onde não existem aqueles olhares cobertos de censuras,
Nem pensamentos sombrios.
Só quero ser eu,
E só eu!

Mas, como que subrepticiamente, toda esta vontade esmorece,
Já não, falo, não critico, não luto,
Aceito tudo o que não quero,
E o que me incomoda deixa de fazer diferença.
Um sofá acolhedor e uns quantos chocolates
Tornam-se o meu objectivos mais interessante,
Para afogar e poder esquecer
Os meus desejos tão utópicos.
Subitamente,
Sinto-me como que uma luz a ofuscar-se,
A flutuar em águas turvas
E a morrer.
E não há ninguém que me possa salvar,
Ninguém que me possa fazer respirar de novo.
Por muito que grite,
Por muito que peça ajuda,
Por muito que queira voltar…


Voltar,
A um sítio colorido.
Colorido e como eu gosto!
Porque assim posso ser o que sou e como sou.
Porque eu critico, eu reclamo, eu protesto até mais não.
Eu odeio estar sozinha.
Eu odeio atrasar-me, mas estou sempre atrasada.
Ignoro as pessoas, mas odeio ser ignorada.
Eu tenho inimigos.
Adoro cantar, mas não tenho jeitinho nenhum.
Eu não consigo confiar em quase ninguém.
Sou ambiciosa e materialista,
E nada acontece como quero.
Estou sempre insatisfeita.
Choro.
Eu cometo erros, mas não me arrependo deles.
Nem sempre estou certa, mas nunca estou errada.
Sim, não sou perfeita.
Mas a eminência disso,
É que no meu Mundo perfeito,
Isso não importa.
E este texto pode nem fazer muito sentido,
e estar tudo disperso,
Mas no meu Mundo perfeito,
Isso também não importa!
Ana Rosa*

9 de fevereiro de 2010

Amo-te, e então?


Volta.
Volta para me amares.
Volta para fazeres de mim o que sou.
Beija-me. Abraça-me. Sou teu.
Porque não suporto a cada dia,
em todos os dias
que estou diante de um espelho ver-me tão só e frágil,
sem ti ao meu lado.
Olho para mim, questiono-me de como foi possível
viver tantos anos sem te descobrir.
E percebo que o sorriso que tenho e que me permite sobreviver,
existe por tua culpa.
Quando voltares, aconchega-te a mim.
Deixa-me mostrar-te o que és.
Traz-me a paz e tudo o que gosto em ti.
Lembra-me do quanto te amo.
Porque a tua ausência é insuportável.
A tua ausência lembra-me do que é viver.
Viver na escuridão e ter que acordar para a realidade.
A tua ausência lembra-me o passado,
esse lugar estranho, sem um bater de um coração, sem um movimento, nem emoções;
vagas memórias secas.

Voltaste, e agora posso ser feliz.
Agora posso entrelaçar os nossos dedos
para que possamos andar com um sorriso imenso de orgulho.
Agora posso beijar os teus lábios doces e gentis.
Posso encostar a minha cabeça ao teu peito e sentir a tua protecção.
Fica
Fica ao meu lado,
Fica mesmo quando o medo vai dançando à nossa volta.
Sabes que estaremos sempre de passagem...
Não vamos negar a realidade,
Sabes que conseguimos ser mais fortes,
Não deixemos que os olhos de outros impeçam a nossa felicidade!
Meu amor eu sei que esta,
é só uma imagem que sonhámos,
uma doce imagem.
Mas hoje, sei que vamos conseguir torná-la real.
Fica e não vás.
Fica e amar-te-ei
Ana Rosa*

Contos De Fadas.


De um momento para o outro acordo.
Os sorrisos são substituídos por olhos sem brilho.
Os dias deixam de ser novos, para serem iguais sem sentido.
Tudo se torna aborrecido, tudo se torna uma responsabilidade, tudo se torna sério.
Os risos são proibidos e desconhecidos.
A felicidade perde sentido. Caras tristes e enfadonhas predominam.
A amizade e o apoio torna-se em egoísmo e desprezo.
Há silêncio mas não, não há paz. É uma guerra.
Uma guerra travada pelos que perseguem os sonhos e os que desistem.
Os que desistem, ganham.
Os que sonham, desistem.
Porque temos que acordar, e acreditar que era tudo um mero sonho.
E os nossos desejos são ignorados em prol de algo sem sabermos o quê.
Sempre, sempre condenados ao "sem sabermos".
Eventualmente, a magia desaparece.
O espírito morre.
O sorriso desvanece.
Os sentimentos esquecem-se.
E tudo se torna escuro, sombrio, feio e estranho,
O conto de fadas, morre.
Já não podemos voltar a viver no nosso
Conto De Fadas.
Ana Rosa*

3 de fevereiro de 2010

Convite.

Sim não falo só por mim, eu quero-te a provar do que é teu.
Agora sim eu falava do que eu sinto, É por força do desejo ser eu.
Por força do que é meu, és tudo o que eu vejo.
Ontem tudo o que eu queria era subir ao teu corpo,
Eu passei no teu medo e esqueci o teu ego.
És tudo o que eu vejo.
Ontem tudo o que eu queria era subir ao teu ego,
Eu passei no teu medo e esqueci o teu corpo.
És tudo o que eu vejo.
De repente o assunto é assunto
E tu mergulhas bem fundo fugindo do amor.
Cá estarei no fim dessa espera
Até ao tempo do que era e não volta a ser.
Agora desisto sempre que eu insisto eu esqueço que existo
Isto é só um convite
Pluto*

30 de janeiro de 2010

Desvanecer.









Um dia bom...
Para espairecer! Para esquecer, ignorar e rir a todo o custo!
Um dia que vale a pena!
Falar sobre nós, falar sobre os outros. Falar sobre o que não importa, mas que nos sorri. Falar sobre o passado e planear o futuro. Recordar, reviver...e descobrir que afinal, àquilo que chamamos mau, para outros é insignificante. Compreender disparidades, venerá-las, respeitá-las e aprender. Parvoíces, emoções, risos e lágrimas, humilhação, desespero, cumplicidade, compreensão...
O contacto com outras experiências...O encontro de novos Mundos...Tudo o que precisamos para enriquecer e crescer. Enfim, para nos realizar!
Um dia produtivo, interessante...Agora, é altura de reflectir e encontrar respostas.
Se tenho algo que me prende ou, se pelo contrário, se precise de me libertar.
As dúvidas mantêm-se mas é certo de que algumas ideias e impressões foram consolidadas.
Agora há que, simplesmente, que encontrar todas as respostas ao que preciso...
Foi, sem dúvida um dia para desvanecer!
Ana Rosa*

28 de janeiro de 2010

Incerto.

Devia encontrar respostas,
Mas as questões aumentam.
Devia encontrar a felicidade,
Mas encontro a desilusão.
Devia saber o que sou,
Mas cada vez me compreendo menos.

As incertezas predominam, e a razão escasseia.
Mas afinal...
O que quero? O que sou? O que tenho?
Cada resposta que obtenho,
Acaba por se tornar numa nova dúvida.
Dúvida essa cada vez mais confusa e confusa.

Enrendo-me na minha própria teia,
E prendo-me ao meu abstracto ridículo.
Não sei o que quero, onde quero, como quero.
Penso ter algo, no momento a seguir,
Desapareceu.

E a intenção da contínua do encontro de um novo mundo,
É deixada para trás,
Na espera de algum dia
A fuga não ser opção
Nem a tristeza a razão.

Sem respostas, sem felicidade, sem um sorriso, assim acabo,
de modo incerto.
Ana Rosa*