23 de fevereiro de 2010

Audácia dissipada.


Tal como todos os dias, este era igual. Chegara a casa, esgotada, sem uma réstia de energia que pudesse ter. Tudo o que eu queria era progredir, ser um pouco reconhecida…Mas nada conseguia. Era impossível conquistar algo, conquistar alguém. Provar o que sou ou o que quero ser. Desde pequenina que tinha este sonho e agora, em vez de se tornar realidade, é pior que um pesadelo.
Entrava no meu despretensioso apartamento, e ia directamente de encontro com a minha melhor companheira, a garrafa de whisky que tinha dentro do armário, ao lado de muitas outras. Não percebo porque o fazia, mas já era hábito.
Voltava a encher o copo, e retirava o meu vestido excessivamente justo, curto, decotado, de que já nada me valia. Já sem roupa, bebia e bebia, enquanto olhava através das janelas panorâmicas da sala para a cidade, enquanto as lágrimas corriam pela minha face e me via corroída pelo desespero e infelicidade profunda. Já não sabia que fazer, que rumo tomar. È aterradora a ideia de lutar tanto em vão. Sentia-me usada, vendida, suja. E de nada me valeu sentir-me assim.
Arranquei o lençol branco que tinha na minha cama e cobri o meu corpo nu apenas com ele. Enquanto subia escadas, levava a garrafa comigo, até chegar ao terraço. Olhava para a vista. Era incrível. As dezenas de edifícios, e sei lá quantos mais seguiam o rasto das intermináveis e indefinidas estradas. Bastava olhar, bastava olhar e perceber. Perceber que isto é tudo simplesmente, estranho e sem sentido! Gostava de descrever o que via, mas até escrevendo seria demasiado, simplesmente demasiado.
A certeza de que nada me prendia e a indiferença com que dava cada passo a seguir ao outro, fez-me tomar uma atitude e chegar ao limite. Subtilmente, aproximo-me do limiar do cimento do terraço. Olhava para baixo e absorvia aquela sensação única que sentia. Ansiedade, autonomia…Apenas vertigens? Talvez. Mas soube bem. Olhava em frente, para o infinito. Procurava um caminho. Um novo caminho. Mas começara a ficar hesitante…Mudava de direcção, ou parava por ali? Talvez a minha discrição deixasse de existir quando aquelas pequenas e banais pessoas intrometidas começaram a olhar lá de baixo o que queria eu fazer…Mas e sei lá eu o que queria fazer! Quem me dera a mim saber! De súbito, começaram a chegar ambulâncias e, como seria de prever, a curiosidade e o espanto dominavam as ruas. Sempre procurei emoções e movimentação e hoje, logo hoje que queria um pouco de paz e sossego, tinham que me aborrecer?!
Bem, só havia uma coisa a fazer: tomar uma decisão. Era um dilema sim, um verdadeiro dilema. O que é certo é que, qualquer que fosse a minha decisão, depois de esta, algo me identificaria: a coragem. Teria coragem para começar um novo caminho, sem saber obstáculos encontraria e se esse seria melhor que este? Ou teria coragem para reconhecer que o meu caminho houvera sido traçado e ficara por ali?


Tomei a minha decisão.
Ontem foi assim, e o hoje o amanhã, já os esqueci.

Ana Rosa*

20 de fevereiro de 2010

Traição


A adição é exclusiva.
A tradição é acolhedora.
Mas a traição acaba por surgir,
Inevitavelmente, ela surge!
Gravura de António Barroso, 1979
Adaptado por Ana Rosa*

19 de fevereiro de 2010

Conceitos.

-Foge, foge para bem longe!
Ele só queria o seu bem, que ela encontrasse por algum tempo a liberdade que tanto queria.
-Se for, não volto.
Ele olhou para o seu rosto com remorsos, mas sorriu-lhe.
Sabia, ou pelo menos acreditava, que ela o amava o suficiente para não suportar tal distância.
Mas ela fugiu. Ela encontrou a liberdade. E não voltou.

Afinal, de que lhe valia ele? Ela não suportava aquela ideia de prisão.
E enquanto se afastava e o via cada vez mais pequeno e pequeno, recordava os tempos em que só ela existia, os seus tempos de loucura, os tempos sem regras, sem limites.
Por muito que o amasse, não abdicaria disso, não abdicaria dos seus pequenos e desprezíveis prazeres.
No fundo, não lhe valia de nada amá-lo e ser amada.


E ele, enquanto a via partir, sorria.
Até se aperceber de que ela realmente não voltava.
Afinal, a liberdade que ele lhe deu, também tinha sido ele a tirá-la.
Ele sempre sonhou com pequenas coisas, sem grandes ambições.
Mas um futuro para eles, algo humilde e simples, mas feliz.
Mas agora ela partiu, ela partiu e o sorriso, foi-se esmorecendo.


Nada nem ninguém os podia impedir do quer que fosse.
Eles alcançavam tudo e todos.
Eles podiam abraçar o Mundo inteiro.
Ela não foi culpada por ser insensível ou egoísta, nem ele por fazer demasiados planos ou pelo seu romantismo aliás, tudo os unia, à excepção de um pequeno pormenor:
o diferente conceito que tinham sobre amor.
Ana Rosa*

16 de fevereiro de 2010

Disperso!


Hoje sim, estou aqui para criticar!
Hoje sim, estou aqui para dizer
Que não posso permitir toda esta monotonia!
Que já não suporto a minha indiferença,
E que quero lutar!
Quero lutar e mudar tudo o que me rodeia!
Mudar e moldar porque quero ser feliz onde estou!
Quero dizer o que quero, onde quero e como quero!
Ignorar todos os pobres coitados
Que se perdem nas sua aparente superioridade...
Ou pelo contrário, na inveja.
Quero amar os que me amam.
Agarrar o que quero,
Para partilhar o que tenho.
Quero que a minha cabeça se mantenha erguida,
Enquanto o meu rasto é enaltecido.
Quero encontrar o meu Mundo,
Onde não existem aqueles olhares cobertos de censuras,
Nem pensamentos sombrios.
Só quero ser eu,
E só eu!

Mas, como que subrepticiamente, toda esta vontade esmorece,
Já não, falo, não critico, não luto,
Aceito tudo o que não quero,
E o que me incomoda deixa de fazer diferença.
Um sofá acolhedor e uns quantos chocolates
Tornam-se o meu objectivos mais interessante,
Para afogar e poder esquecer
Os meus desejos tão utópicos.
Subitamente,
Sinto-me como que uma luz a ofuscar-se,
A flutuar em águas turvas
E a morrer.
E não há ninguém que me possa salvar,
Ninguém que me possa fazer respirar de novo.
Por muito que grite,
Por muito que peça ajuda,
Por muito que queira voltar…


Voltar,
A um sítio colorido.
Colorido e como eu gosto!
Porque assim posso ser o que sou e como sou.
Porque eu critico, eu reclamo, eu protesto até mais não.
Eu odeio estar sozinha.
Eu odeio atrasar-me, mas estou sempre atrasada.
Ignoro as pessoas, mas odeio ser ignorada.
Eu tenho inimigos.
Adoro cantar, mas não tenho jeitinho nenhum.
Eu não consigo confiar em quase ninguém.
Sou ambiciosa e materialista,
E nada acontece como quero.
Estou sempre insatisfeita.
Choro.
Eu cometo erros, mas não me arrependo deles.
Nem sempre estou certa, mas nunca estou errada.
Sim, não sou perfeita.
Mas a eminência disso,
É que no meu Mundo perfeito,
Isso não importa.
E este texto pode nem fazer muito sentido,
e estar tudo disperso,
Mas no meu Mundo perfeito,
Isso também não importa!
Ana Rosa*

9 de fevereiro de 2010

Amo-te, e então?


Volta.
Volta para me amares.
Volta para fazeres de mim o que sou.
Beija-me. Abraça-me. Sou teu.
Porque não suporto a cada dia,
em todos os dias
que estou diante de um espelho ver-me tão só e frágil,
sem ti ao meu lado.
Olho para mim, questiono-me de como foi possível
viver tantos anos sem te descobrir.
E percebo que o sorriso que tenho e que me permite sobreviver,
existe por tua culpa.
Quando voltares, aconchega-te a mim.
Deixa-me mostrar-te o que és.
Traz-me a paz e tudo o que gosto em ti.
Lembra-me do quanto te amo.
Porque a tua ausência é insuportável.
A tua ausência lembra-me do que é viver.
Viver na escuridão e ter que acordar para a realidade.
A tua ausência lembra-me o passado,
esse lugar estranho, sem um bater de um coração, sem um movimento, nem emoções;
vagas memórias secas.

Voltaste, e agora posso ser feliz.
Agora posso entrelaçar os nossos dedos
para que possamos andar com um sorriso imenso de orgulho.
Agora posso beijar os teus lábios doces e gentis.
Posso encostar a minha cabeça ao teu peito e sentir a tua protecção.
Fica
Fica ao meu lado,
Fica mesmo quando o medo vai dançando à nossa volta.
Sabes que estaremos sempre de passagem...
Não vamos negar a realidade,
Sabes que conseguimos ser mais fortes,
Não deixemos que os olhos de outros impeçam a nossa felicidade!
Meu amor eu sei que esta,
é só uma imagem que sonhámos,
uma doce imagem.
Mas hoje, sei que vamos conseguir torná-la real.
Fica e não vás.
Fica e amar-te-ei
Ana Rosa*

Contos De Fadas.


De um momento para o outro acordo.
Os sorrisos são substituídos por olhos sem brilho.
Os dias deixam de ser novos, para serem iguais sem sentido.
Tudo se torna aborrecido, tudo se torna uma responsabilidade, tudo se torna sério.
Os risos são proibidos e desconhecidos.
A felicidade perde sentido. Caras tristes e enfadonhas predominam.
A amizade e o apoio torna-se em egoísmo e desprezo.
Há silêncio mas não, não há paz. É uma guerra.
Uma guerra travada pelos que perseguem os sonhos e os que desistem.
Os que desistem, ganham.
Os que sonham, desistem.
Porque temos que acordar, e acreditar que era tudo um mero sonho.
E os nossos desejos são ignorados em prol de algo sem sabermos o quê.
Sempre, sempre condenados ao "sem sabermos".
Eventualmente, a magia desaparece.
O espírito morre.
O sorriso desvanece.
Os sentimentos esquecem-se.
E tudo se torna escuro, sombrio, feio e estranho,
O conto de fadas, morre.
Já não podemos voltar a viver no nosso
Conto De Fadas.
Ana Rosa*

3 de fevereiro de 2010

Convite.

Sim não falo só por mim, eu quero-te a provar do que é teu.
Agora sim eu falava do que eu sinto, É por força do desejo ser eu.
Por força do que é meu, és tudo o que eu vejo.
Ontem tudo o que eu queria era subir ao teu corpo,
Eu passei no teu medo e esqueci o teu ego.
És tudo o que eu vejo.
Ontem tudo o que eu queria era subir ao teu ego,
Eu passei no teu medo e esqueci o teu corpo.
És tudo o que eu vejo.
De repente o assunto é assunto
E tu mergulhas bem fundo fugindo do amor.
Cá estarei no fim dessa espera
Até ao tempo do que era e não volta a ser.
Agora desisto sempre que eu insisto eu esqueço que existo
Isto é só um convite
Pluto*